segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Pastelaria

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

Mário Cesariny

2 comentários:

  1. Um dos melhores poemas do Cesariny, muito bem lido pela Mariana.

    Na lista de blogues, sigam para o "Os vinte versos da valsa", do 11º 1B. Estão a trabalhar no mesmo.

    Continuem!

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  2. Parabéns pelo blog!

    Aqui fica o poema declamado, num antigo programa da RTP 2 "Um poema por semana":

    http://www.youtube.com/watch?v=2UNO5GcNJl8

    Joana Baião

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